Diário de um sobrevivente

Arquivo Aberto


Clique para comprar o livro
Ficção política com jogo bruto não seria melhor. A ação em Arquivo Aberto – Diário de um Sobrevivente é uma atraente viagem – ou melhor, uma corrida – no tempo através do forró de jogadas e mistificação da política brasileira.

Nesta narrativa em que o autor é repórter e também personagem, o leitor se sentirá “agarrado” pelo ritmo de quem tem de enviar imediatamente a notícia para o ar ou para a oficina do jornal. A imparcialidade (ou frieza), que os frágeis cânones da profissão apregoam, não está presente nestas páginas. Nelas há opinião, reflexão, pensamento, paixão. Enfim, há vida, pois Arquivo Aberto é sobretudo uma história de vida e de uma vida.

Situações profissionais e da intimidade do autor perpassam a ciranda política em que se misturam acaso, humor, inteligência e, em doses cavalares, astúcia e camuflagem, as formas animais de inteligência, presentíssimas na cena política brasileira. Em rápidas descrições de força bruta, a razão das bestas, o autor acena como fazem os arqueólogos, com fragmentos que instigam a buscar o entendimento de noss passado e, consequentemente, do presente do país.

Aqui se chacoalham frente ao leitor lembranças que ainda pedem explicações: as mortes altamente suspeitas de Juscelino Kubitshek (1976), João Goulart (1976) e Carlos Lacerda (1977), e o assassinato do deputado Ulisses Guimarães (1992). Por coincidência, os primeiros eram os três políticos de maior expressão para suceder o regime diatorial, depois de organizar a “Frente Ampla” pela redemocratização.

Ulysses, quando o país respirava os primeiros ares de democracia, dez dias depois da renúncia do ex-presidente Fernando Color de Mello, após o impeachment ser aprovado pelo Congresso.

Arquivo Aberto vai muito mais longe, mas não tão fundo que possa cansar. Oferece de que rir, de que chorar e sobre o que pensar. Arquivo Aberto se limita na justa dimensão pelos dois instrumentos mais opressivos do jornalismo, o tempo e, o mais que este, o espaço. Para os cineastas de plantão está nestas páginas um belo argumento para o roteiro de um filme. E com um personagem que, em off, faz a narrativa na primeira pessoa.

por Wilson Palhares

0 comentários:

Postar um comentário